A tal respeito, pareceu-me, do mesmo modo, oportuno imitar os retóricos de nossos dias, que consideram a si mesmos outras tantas divindades, visto como se podem gabar de outras línguas, como a sanguessugal, e têm como coisa maravilhosa incluir nos seus discursos, de atropelo, ainda que fora de propósito, palavrinhas gregas, com o fim de formar belíssimos mosaicos.

E, quando sucede que um desses tais oradores desconhece as línguas estrangeiras, desencrava ele de rançosos papéis quatro ou cinco vocábulos, com os quais atira poeira aos olhos do leitor, de modo que aqueles que o compreendem se envaideçam do próprio saber e aqueles que não o compreendem passem a admirá-lo na proporção da própria ignorância.

Para nós, que somos os tolos, um dos maiores prazeres não estará em admirar, com a máxima surpresa, tudo quanto nos chega dos países ultramontanos?

Por fim, se existirem alguns que, mesmo que nada entendam desses velhos idiomas, queiram demonstrar que os compreendem, em tal caso devem mostrar uma fisionomia satisfeita, dar sua aprovação abanando a cabeça, ou tão-só as enormes orelhas de burro, e dizer com uma expressão de importância: “Bravo! Bravo! Muito bem! Exatamente!”


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