Author: Waldir Bertazzi Junior

  • O que é filosofia?

    “A Filosofia,” escreve Sir William Hamilton, “foi definida como: A ciência das coisas divinas e humanas, e das causas em que estão contidas [Cícero]; A ciência dos efeitos por suas causas [Hobbes]; A ciência das razões suficientes [Leibniz]; A ciência das coisas possíveis, na medida em que são possíveis [Wolff]; A ciência das coisas evidentemente deduzidas de primeiros princípios [Descartes]; A ciência das verdades, sensíveis e abstratas [Condillac]; A aplicação da razão aos seus objetos legítimos [Tennemann]; A ciência das relações de todo o conhecimento com os fins necessários da razão humana [Kant]; A ciência da forma original do ego ou do eu mental [Krug]; A ciência das ciências [Fichte]; A ciência do absoluto [von Schelling]; A ciência da indiferença absoluta entre o ideal e o real [von Schelling] – ou, A identidade da identidade e da não-identidade [Hegel].”

  • Limitarianismo

    A seguir, apresento uma reflexão pessoal sobre os trabalhos “What, if Anything, is Wrong with Extreme Wealth?” (Ingrid Robeyns), “Corporate Limitarianism” (Karl Meyer) e “Rejecting Robeyns’ Limitarianism” (Timothy J. Nicklas).

    O objetivo é refletir sobre as principais teses e argumentações dos textos, relacionando as implicações éticas e práticas do limitarianismo – tanto em relação aos indivíduos quanto às corporações – sem a intenção de dialogar com terceiros, mas apenas de ordenar meu próprio pensamento.

    Introdução

    Tenho me dedicado a desenvolver uma opinião sólida sobre se há, de fato, algo moralmente questionável na acumulação extrema de riqueza. A hipótese central é a de que, uma vez que se alcança um patamar no qual recursos adicionais deixam de melhorar a qualidade de vida, o excesso passa a ser um fardo para a sociedade. Essa ideia também abrange a possibilidade de que tanto indivíduos quanto grandes corporações deveriam ter um teto para a acumulação de capital, de modo a evitar que a riqueza extra possa ser convertida em influência política ou utilizada para perpetuar desigualdades.


    Resumo

    A Proposta de Limitarianismo de Robeyns

    Robeyns sustenta que existe um “limite de suficiência” – um valor de riqueza a partir do qual o dinheiro adicional não contribui para o bem-estar pessoal. Dois argumentos fundamentam essa posição:

    • O Argumento Democrático: Segundo essa perspectiva, a acumulação de riqueza acima do necessário abre espaço para que os super-ricos comprem influência política. Essa influência, ao ser direcionada para interesses particulares, compromete a igualdade entre os cidadãos e corrói os alicerces da democracia. A ideia de que o excesso financeiro possa ser usado para alterar agendas e direcionar decisões legislativas levanta uma preocupação sobre a centralização do poder nas mãos de uma minoria.
    • O Argumento das Necessidades Urgentes: A outra vertente defende que o dinheiro além do necessário deveria ser redirecionado para enfrentar problemas urgentes, como a pobreza extrema, a desigualdade de oportunidades e a crise climática. Nesse sentido, o capital “supérfluo” é visto não como algo que agregue valor à qualidade de vida de quem o detém, mas como um recurso que poderia ser melhor empregado para resolver desafios coletivos e imediatos.

    A Crítica de Nicklas ao Limitarianismo

    Timothy Nicklas apresenta uma crítica contundente à ideia de impor limites rígidos à riqueza. Seus principais pontos de contestação incluem:

    • Subjetividade do Bem-Estar: O bem-estar, na visão de Nicklas, é intrinsecamente subjetivo. Cada pessoa possui desejos, paixões e circunstâncias de vida distintas, o que torna inviável a formulação de um padrão universal que defina o que seria “suficiente”. A imposição de uma linha fixa para a acumulação de riqueza ignora essa diversidade e pode resultar em medidas arbitrárias.
    • Implicações para a Inovação e o Crescimento Econômico: Existe ainda a preocupação de que limitar a acumulação de riqueza possa reduzir os incentivos para a inovação e o desenvolvimento econômico. O capital adicional, mesmo que supérfluo em termos de bem-estar pessoal, pode ser um motor de investimentos, tecnologias e de avanços que, a longo prazo, beneficiem toda a sociedade.

    Limitarianismo Estendido para Empresas

    Karl Meyer amplia o debate propondo o “corporate limitarianism”. Ele argumenta que as grandes corporações, assim como os indivíduos, acumulam recursos que excedem suas necessidades operacionais e poderiam ser empregados de forma mais produtiva ou justa, sobretudo para combater desigualdades ou financiar soluções a problemas críticos como a mudança climática.
    Essa linha de pensamento reforça a ideia de que a concentração de capital não é isenta de consequências negativas e que, quando acumulada sem limites, pode ser utilizada para exercer influência política e distorcer os processos democráticos.


    Reflexões

    A idéia de Ingrid Robeyns não é nova, mas um tema interessante de ser revisitado neste momento dado o contexto atual do mundo. Robeyns a estrutura de forma clara e direta: o excesso de riqueza pode ser convertido em poder político, corroendo as bases da democracia e ampliando desigualdades. Além disso, num mundo repleto de necessidades urgentes – pobreza, fome, crise climática, saúde pública – o dinheiro excedente poderia ser mais bem utilizado se redistribuído.

    Karl Meyer amplia essa perspectiva ao aplicá-la às corporações. Empresas gigantes, com lucros que ultrapassam orçamentos de países, acumulam recursos além de qualquer uso operacional razoável. Esse capital, frequentemente direcionado à influência política e à manutenção de monopólios, poderia ser revertido para mitigar os danos ambientais que muitas dessas mesmas empresas ajudam a causar. Meyer mostra que não se trata apenas de “grandeza” econômica, mas de uma disfunção moral que já atravessa a espinha dorsal do capitalismo moderno.

    Mas, como é comum nos bons debates filosóficos, há quem discorde. Timothy Nicklas rejeita os argumentos de Robeyns, criticando a base conceitual do limitarianismo. Segundo ele, o bem-estar é subjetivo demais para que se possa estabelecer um limite universal de riqueza. O que é “suficiente” para um pode não ser para outro. Além disso, há a preocupação de que um teto de riqueza possa desestimular inovação, investimentos e esforço. Essa crítica me faz pensar, porque reconhece um ponto real: a complexidade do desejo humano e as múltiplas formas de se viver bem. A riqueza, para alguns, é um meio de criar, construir, ajudar, explorar – e não apenas acumular.

    Apesar disso, percebo que esses argumentos, embora intelectualmente respeitáveis, soam, para mim, como desvios que mascaram uma verdade mais profunda e incômoda: a humanidade adoeceu.

    A concentração extrema de riqueza – tanto nas mãos de indivíduos quanto de corporações – não é apenas um fenômeno econômico; ela é o sintoma de uma doença civilizatória. Estamos vivendo uma era de abundância tecnológica, mas escassez de sentido. Avançamos nas máquinas, retrocedemos na alma. Multiplicamos conexões digitais, mas perdemos as conexões humanas.

    Trabalhamos mais do que nunca. Produzimos mais do que nunca. Estamos mais ocupados, mais cansados, mais ansiosos. Para manter funcionando uma engrenagem que gira em torno da ideia de crescimento infinito, como se os recursos da Terra – e os da nossa sanidade – fossem igualmente infinitos.

    A crítica ao limitarianismo parte do pressuposto de que precisamos da liberdade irrestrita para acumular e gastar como quisermos. Mas o que fazemos com essa liberdade? Recriamos desigualdades, destruímos o planeta, terceirizamos o sofrimento. Uma minoria nada em cifras irreais enquanto bilhões lutam para sobreviver. Isso não é liberdade. É disfunção.

    Eu acredito, sinceramente, que estamos andando para trás. A velocidade com que nos afastamos de uma vida enraizada no presente, na suficiência, na tranquilidade, é assustadora. A vida humana está sendo vendida ao cansaço, ao acúmulo, à disputa, enquanto o tempo – o único recurso realmente escasso – escorre pelos dedos.

    Por tudo isso, por mais que eu reconheça as dificuldades conceituais e práticas do limitarianismo, concordo com ele. Não acredito que seja possível uma sociedade justa, serena e verdadeiramente democrática num mundo onde alguns podem comprar tudo.

    A ideia de limitar o excesso – e redistribuí-lo – não é um ataque à liberdade. É um gesto de resgate. Um resgate da dignidade comum, do valor intrínseco da vida, da possibilidade de um mundo menos apressado, menos desigual, menos doente.

  • Aparência

    A tal respeito, pareceu-me, do mesmo modo, oportuno imitar os retóricos de nossos dias, que consideram a si mesmos outras tantas divindades, visto como se podem gabar de outras línguas, como a sanguessuga, e têm como coisa maravilhosa incluir nos seus discursos, de atropelo, ainda que fora de propósito, palavrinhas gregas, com o fim de formar belíssimos mosaicos.

    E, quando sucede que um desses tais oradores desconhece as línguas estrangeiras, desencrava ele de rançosos papéis quatro ou cinco vocábulos, com os quais atira poeira aos olhos do leitor, de modo que aqueles que o compreendem se envaideçam do próprio saber e aqueles que não o compreendem passem a admirá-lo na proporção da própria ignorância.

    Para nós, que somos os tolos, um dos maiores prazeres não estará em admirar, com a máxima surpresa, tudo quanto nos chega dos países ultramontanos?

    Por fim, se existirem alguns que, mesmo que nada entendam desses velhos idiomas, queiram demonstrar que os compreendem, em tal caso devem mostrar uma fisionomia satisfeita, dar sua aprovação abanando a cabeça, ou tão-só as enormes orelhas de burro, e dizer com uma expressão de importância: “Bravo! Bravo! Muito bem! Exatamente!”

  • Definir e Dividir

    Não espereis que, conforme o hábito dos retóricos comuns,
    eu vos apresente a minha definição e ainda menos a minha
    divisão. Efetivamente, que é definir? É enfeixar a idéia de algo
    nos seus exatos limites. E que é dividir? É separar uma coisa
    em suas diferentes partes. Ora, nem uma nem a outra me
    são convenientes. Como eu poderia limitar-me, quando o
    meu poder está estendido a toda a espécie humana? E como
    seria possível dividir-me, quando tudo colabora, geralmen-
    te, para garantir a minha divindade? Além do mais, por que
    me pintaria como sombra e imagem numa definição quan-
    do eu estou frente a vossos olhos e me vedes em pessoa?

  • Pesquisa Sobre a Febre

    Tomar um remédio como a dipirona (que tomo desde criança) ou não tomar e deixar o corpo passar por isso sozinho? Tratar a febre não é tratar a doença. Mas febre é ruim de sentir.

    Mas afinal, o que é febre?

    O que é febre?

    Hipócrates, no século V a.C. foi provavelmente o primeiro a entender e caracterizar a febre como parte da resposta imunológica.

    Sydenham (que de maneira cômica tem o apelido “Hipócrates Inglês”) descreveu a febre como “a máquina da natureza que ela coloca no campo para remover seu inimigo” (Fever is nature’s engine which she brings into the field to remove her enemy) (7).

    Durante muitos anos achavam também que a febre era uma doença em si própria em vez de um sinal de outra doença. Outra coisa é que não havia aparelhos pra medir a temperatura dos pacientes. Só no século XIX, quando Karl Wunderlich instituiu o uso de termômetros e cartões de temperatura para monitorar as mudanças nos pacientes ao longo do tempo, foi incorporado esse sinal vital no diagnóstico (1). Na figura podemos ver uma tabela de Wunderlich.

    “In fact, in 1961 the clinical picture of ‘Fever of Unknown Origin’ was officially defined.”

    Gian Franco Gensini, Andrea A Conti

    Early serial temperature charts by Dr. Carl Wunderlich 1870.
    Early serial temperature charts by Dr. Carl Wunderlich 1870.  


    Outra coisa que aprendi é que a febre é “criada” no hipotálamo. Ele atua como o termostato do corpo. Quando tudo está bem, o hipotálamo é ajustado à temperatura normal (descoberta também por Wunderlich, ~36.8 °C). A febre se desenvolve quando o hipotálamo é ajustado para uma temperatura mais alta do que o normal. Essa redefinição do hipotálamo geralmente é causada por pequenas moléculas chamadas pirogênios (que são produzidas por certos organismos).

    A temperatura “oficial” segundo o American College of Critical Care Medicine e da Infectious Diseases Society of America é de 38,3 °C ou mais, o que é geralmente aceito como febre para pacientes em ambiente de UTI.

    A febre é uma reação hospedeira com de origem filogenética antiga a microorganismos invasores e outros estímulos nocivos.

    Por exemplo, animais ectotérmicos podem atingir temperaturas febris ao procurar um ambiente quente em resposta a um ponto de ajuste mais alto em seu centro termorregulador. Organismos endotérmicos produzem temperaturas febris por meio da produção endógena de calor com o custo de uma taxa metabólica mais alta.

    No entanto, a febre tem sido conservada ao longo da evolução por milênios, obviamente devido à sua vantagem na defesa do hospedeiro. Apesar desses argumentos, a maioria dos médicos, enfermeiros e pacientes trata a febre com antipiréticos. O papel da febre na recuperação de infecções de baixo risco é, na melhor das hipóteses, marginal.

    Aqueles que defendem a abordagem de “deixe seguir” argumentam que a febre é um mecanismo de proteção com benefícios que vão desde o aprimoramento da função das células imunológicas até a promoção da atividade antimicrobiana (2, 3). Na última década, vários estudos apoiaram essa hipótese.

    A febre é boa ou ruim?

    Cientificamente, simplesmente não sabemos. Estima-se que a febre tenha mais de 4 milhões de anos e tenha sido documentada nos filos Vertebrata, Arthropoda e Annelida (5). Apesar de seu longo histórico de estudo, o mecanismo exato da febre e seu efeito potencialmente protetor não estão totalmente delineados.

    Pode-se hipotetizar que o tratamento da febre compromete a competência imunológica e torna os pacientes mais suscetíveis a infecções. Tome, por exemplo, o experimento de Kluger et al. em 1981 (6). Nele, Kluger et al. infectaram iguanas de sangue frio com bactérias. Ele lhes deu a oportunidade de buscar calor por meio de lâmpadas solares, e todas, exceto uma, buscaram o calor para aumentar sua temperatura. Aquela que não o fez foi a única que morreu. Em seguida, ele injetou bactérias nas iguanas e deu a elas antipiréticos. As iguanas que foram capazes de desenvolver febre apesar do antipirético foram as únicas que sobreviveram.

    Este experimento simplista, além da plausibilidade biológica dos efeitos benéficos da febre, agora apoiada por vários ensaios clínicos randomizados importantes, sugere que talvez seja hora de adotar uma abordagem mais permissiva em relação à febre.

    No geral então não existe um consenso. Mas algo indica que deixar a febre se manifestar pode ser melhor.

    Referências

    (0) https://jtd.amegroups.org/article/view/6205/5997
    (1) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15236913/
    (2) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6789670/
    (3) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12793871/
    (4) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16433601/
    (5) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11113022/
    (6) https://www.pbs.org/wgbh/evolution/library/10/4/l_104_04.html
    (7) https://www.bmj.com/content/339/bmj.b3874

  • A Simple JS Nature Simulator

    The Life Simulator creates a virtual ecosystem where various entities, such as trees, herbivores, and carnivores, coexist and interact. These interactions are governed by specific rules and behaviors that mimic natural processes like feeding, fleeing from predators, and procreating.

    See it live here. The source code is available on GitHub.

    Entities and Behaviors

    • Trees: Act as the primary food source for herbivores. They have a static position and a slow energy gain over time.
    • Herbivores: Move around the environment seeking food (trees) and have the ability to procreate under certain conditions.
    • Carnivores: Hunt herbivores (and sometimes other carnivores) for sustenance. They also procreate and exhibit fleeing behavior when threatened.

    Simulation Configuration

    The simulation is configured with parameters that define the world’s size, population ranges for different entities, and various features such as energy bars and procreation animations. This configuration allows for easy adjustments to the simulation’s complexity and realism.

    Dynamic Environment

    Entities exhibit different behaviors based on their state and environmental stimuli:

    • Seek Food: Herbivores and carnivores search for food sources when their energy levels are low.
    • Fleeing: Herbivores attempt to escape when a predator is nearby.
    • Relax: Entities remain idle when they are neither hungry nor threatened.

    Energy Management

    Each entity has an energy level that influences its behavior:

    • Energy Gain and Consumption: Trees gain energy slowly, while herbivores and carnivores lose energy over time and gain it by consuming food.
    • Energy Bar: A visual representation of an entity’s energy level is displayed, with different colors indicating healthy or critical energy states.

    Procreation and Survival

    Entities can procreate if certain conditions are met, contributing to the dynamic nature of the ecosystem. The simulation includes animations to visually represent the act of procreation.

    Challenges

    • It is very hard to make the system stable, population wise.
  • A Manobra de Conway Inversa: A Relação entre Aproximar Pessoas e Melhorar Sistemas

    Muitas organizações, ainda hoje, contam com tomada de decisões centralizadas. Decisões são tomadas por líderes e depois comunicadas ao restante das pessoas. Isso têm diversos problemas: lentidão na tomada de decisões, falta de envolvimento, pouca inovação, desmotivação e, principalmente, a falta de aprendizado verdadeiro.

    Como então realizar alterações profundas na organização de modo a fazer os times terem interações mais construtivas e que gerem maior aprendizado?

    A Manobra de Conway Inversa (ICM, em inglês) é baseada na famosa idéia de Melvin Conway que “qualquer organização que projeta sistemas (sentido amplo) produzirá um projeto cuja estrutura é uma cópia da estrutura de comunicação da organização.”1

    A ICM é definida por:

    As organizações devem projetar suas estruturas de comunicação para refletir os sistemas que desejam construir.

    Assim, as decisões estruturais são tomadas com base nas necessidades das pessoas e suas relações do dia-a-dia em vez de diretivas top-down.

    Exemplo: a empresa precisa alterar/criar uma feature, mas ela está sendo bloqueada por um sistema legado.

    Tradicionalmente, a liderança poderia tomar a decisão de refatorar o sistema legado, gerando muita carga de trabalho no time, frustração, não cumprimento de prazos, etc.

    Uma solução na linha do ICM seria criar canais de comunicação. Evidenciar o problema, focando no por que resolve-lo é importante para o futuro. Em seguida, deixar os times envolvidos trabalharem na solução.


    Um dos principais benefícios da ICM é a liberdade para aprender. Ao dar às equipes e pessoas a liberdade de tomar decisões com base nas necessidades de seus projetos, os times podem criar ambientes de aprendizados e união. Isso pode levar a soluções mais inovadoras, tempos de desenvolvimento menores e um produto melhor.

    Outra vantagem é que ela é mais flexível e adaptável do que a tomada de decisão top-down. Com uma estrutura de comunicação mais aberta e inclusiva, as organizações podem responder rapidamente às mudanças em seu ambiente e tomar decisões mais alinhadas com as necessidades de seus sistemas e produtos.

    Ela também ajuda a construir uma cultura organizacional mais positivacolaborativa. Ao capacitar as pessoas e incentivar a colaboração, as organizações podem criar um ambiente de trabalho mais favorável, inclusivo e inovador. Isso pode levar a uma maior satisfação das pessoas, maior retenção e maior produtividade. Além de se potencializar com opiniões diversas e pontos de vistas divergentes.

    Embora possa oferecer muitos benefícios em relação à tomada de decisão tradicional, é importante ter em mente que ela requer uma mudança profunda na cultura organizacional. Isso significa que as organizações devem estar dispostas a abraçar a mudança e incentivar as pessoas a trabalhar de maneiras novas e diferentes, juntas.


    A ICM está intimamente ligada às ideias apresentadas no livro “Turn the Ship Around!: A True Story of Turning Followers into Leaders”, por L. David Marquet. A ICM se alinha com essa filosofia, incentivando as organizações a capacitar suas pessoas e promover aprendizado para todo mundo.

    Marquet argumenta que a tomada de decisão tradicional top-down costuma ser limitante. Ele acredita que capacitar os funcionários e criar uma cultura de liderança pode levar a um melhor desempenho organizacional e a um ambiente de trabalho mais positivo, com mais aprendizado e mais inclusivo. A ICM também implementa essa ideia, sugerindo que as organizações devem projetar suas estruturas de comunicação para refletir os sistemas que desejam construir, o que permite que as equipes tomem decisões com base nas necessidades de seus projetos e aproveitem sua experiência coletiva.

    Outra conexão entre as idéias é o foco na flexibilidade e adaptabilidade. Marquet argumenta que as organizações precisam ser capazes de se adaptar rapidamente às mudanças nas circunstâncias e tomar decisões alinhadas com as necessidades de seus sistemas e produtos. A ICM apóia isso criando uma estrutura de comunicação mais aberta e inclusiva que permite que as organizações respondam rapidamente às mudanças em seu ambiente.


    A ICM é uma estratégia que leva tempo para ser implementada. É uma alteração no modo em que as pessoas se organizam. Está na terceira “alça” de aprendizado organizacional. [2]

    Notas

    1. Any organization that designs a system (defined broadly) will produce a design whose structure is a copy of the organization’s communication structure.“, no original.
    2. Disponível em link. Acessado em 08/02/2023 – Disponível também em: EVALUATING SYSTEMS CHANGE RESULTS

  • Accountability e Segurança Emocional

    Gerenciar times com o objetivo de atingir alta performance é algo complexo, cheio de facetas e variáveis. Não há formula mágica.

    Entretanto, existem duas variáveis que precisam estar bem calibradas. Elas são: o nível de segurança emocional e o nível de accountability.

    A matriz de accountability versus segurança emocional é uma boa ferramenta para fazer uma análise de como o time está.

    Accountability

    Accountability, ou “responsabilidade autogerada” em uma tradução que gosto bastante, é a capacidade de uma equipe de ser responsável por suas ações e impactos. É a atitude de quem, ao passar várias vezes pelo mesmo problema e que lhe atrapalha, pega as ferramentas necessárias e vai resolvê-lo – sem esperar que lhe seja delegado.

    É importante que times com bastante accountability tenham claras as responsabilidades de todos os integrantes e stakeholders. A organização em uma matriz RACI por exemplo pode ser uma estratégia. Essa atitude é uma faca de dois gumes, pois pode criar ambientes que se atolam em tarefas e pensamentos que não são exatamente de sua responsabilidade ou que estão fora da sua zona de resolução sistêmica.

    Segurança Emocional

    A segurança emocional é a capacidade de uma equipe em lidar com as emoções e sentimentos negativos. Um time com baixa segurança emocional geralmente habita ambientes onde cobranças e críticas são feitas constantemente, muitas vezes mal fundamentadas ou incompletas.

    A baixa Segurança Emocional também pode ocorrer em times com pouca capacidade de entrega devido a desorganização e do auto-conhecimento sobre a própria capacidade, fazendo com que fure muitos prazos. O crucial aqui é: a segurança emocional baixa quase sempre indica problemas no ambiente, e quase nunca com as pessoas.

    Os Quadrantes Problemáticos

    Não vamos falar aqui sobre o quadrante “Apatia” pois é um quadrante bastante raro em ambientes de crescimento acelerado.

    Ansiedade (Baixa Segurança e Muita Accountability)

    Sintomas

    • Não sabemos para onde estamos indo;
    • Não sabemos se estamos fazendo o que é certo, do jeito certo;
    • Temos vários projetos que foram engavetados.

    Causas

    É bastante provável que em volta de times com baixa segurança exista um ambiente de pouca comunicação e transparência. Há críticas exacerbadas. Pouca capacidade de organização e articulação com as ouras áreas. Pouco conhecimento em executar e resolver problemas sistemáticos. Pouco Feedback. Time “solto”, sem lastro com os objetivos da empresa.

    Por isso, também, é tão importante que as empresas e times tenham sua própria lista de missão, valores e objetivos.

    Ações

    • Aumentar a comunicação com os principais times que criticam.
    • Organizar rituais (weekly, daily, sprints, kanban, etc) e definir a relação com os outros times, assim como suas responsabilidades.
    • Manter a palavra na priorização e entrega de tarefas.
    • Trazer mais autoconhecimento de capacidade para o time com rituais de priorização.

    Conforto (Pouca Accountability e Muita Segurança Emocional)

    Sintomas

    • Cada um faz o que quer e quando quer;
    • Desordem e conforto;
    • Pouco alinhamento com a cultura.

    Causas

    Um time com muita segurança emocional e pouca accountability provavelmente possuiu uma liderança que “blinda” de modo negativo e excessivo o time e seu contato com “o mundo externo”. Sempre há desafios importantes para serem resolvidos (afinal o time existe). Criar pontes com outras áreas e mostrar como o trabalho realizado pelo time impacta a vida de outras pessoas. Isso cria laços de confiança e expõe o time às decisões e aumento de maturidade.

    Outra possibilidade é a presença de pessoas tóxicas ao time. Pessoas que demonstram poder de ofensa à ideias e às expõe de maneira a suprimir comentários opostos. Essas pessoas devem ter cuidado extra.

    Ações

    • Não tolerar nenhum tipo de segregação de pessoas. Isso vai muito além do ambiente de trabalho, deve ser algo que praticamos todos os dias com todos à nossa volta. Criar um ambiente inclusivo e agradável para todos é a missão de todas as pessoas do mundo.
    • Criar espaços de troca e Feedback. Esses times muitas vezes possuem uma “segurança emocional falsa”. Isto é, a “segurança” só aparece para quem é de fora do time. As vezes as pessoas do time estão sofrendo com problemas entalados na garganta. Crie espaços de troca e de segurança. 
    • Trazer desafios críticos e demonstrar sua importância para o cliente final, seja interno ou externo.
    • Tolerar, durante as mudanças, problemas com a organização de tarefas e prazos. Por ter muita segurança, provavelmente é um time que não gosta de errar. Traga um ar de inovação.

    O Quadrante Ideal: Alta Accountability e Alta Segurança Emocional

    Nesse quadrante é onde encontramos os times de alta performance. São times que já possuem uma grande dinâmica entre seus integrantes. Já existe uma confiança bem construída entre os membros e seus principais stakeholders; há também visibilidade de como o trabalho do time impacta todos os envolvidos e envolvidas.

    Aqui, as pessoas trabalham contando que estão cercadas de outros indivíduos em que confiam; observam a empresa como um grande sistema e que elas são pessoas chave para atingir o sucesso do grupo, assim como seu próprio sucesso.

    Em resumo, accountability e segurança emocional são fundamentais para o sucesso de um time e o gestor tem papel crucial na criação de um ambiente que promova esses valores. Ao fazer isso, os times serão mais eficazes, produtivos e engajados, o que, por sua vez, levará a resultados melhores para a organização e para seus indivíduos.

    Complemento: Modelo de Tuckman

    Mudanças não acontecem da noite pro dia. O modelo de Tuckman ajuda a observarmos como as pessoas do time se relacionam. Mais informações aqui.

  • As doze virtudes morais de Aristóteles

    Como a natureza humana é complexa e frequentemente tende ao oposto da eudaimonia, da mesma forma que as circunstâncias, o homem deve submeter-se a regras e critérios racionais para obter equilíbrio em pelo menos doze instâncias. Esse equilíbrio se dá por meio das doze virtudes morais, as quais devem ser desenvolvidas no homem:

    1. a coragem, que se constitui de um equilíbrio entre a sensação de medo e de confiança;

    2. a temperança, que é o equilíbrio entre prazeres e dores;

    3. a liberalidade, que é um equilíbrio entre o dar e o receber ou reter dinheiro;

    4. a magnificência, que é o equilíbrio do dinheiro dado em grandes quantidades, pois seu excesso é vulgar e de mau gosto e sua deficiência é a mesquinhez;

    5. o justo orgulho, que é o equilíbrio entre a honra e a desonra;

    6. o anônimo, é o equilíbrio entre a ambição e a desambição;

    7. a calma, que é o equilíbrio entre a cólera e a pacatez;

    8. a veracidade, que é o equilíbrio entre o exagero e a falsa modéstia;

    9. a espirituosidade, que é o equilíbrio entre a aprazabilidade e a rusticidade;

    10. a amabilidade, que é o equilíbrio entre ser obsequioso e ser mal-humorado;

    11. a modéstia, que é o equilíbrio entre o acanhado e o despudorado; e

    12. a justa indignação, que é o equilíbrio entre a inveja e o despeito.

    Portanto, os atos morais, para Aristóteles (2007, p. 88), são aqueles que, depois da deliberação, com o auxílio da prudência, são realizados.

  • Aristóteles – Sophia e Phronesis

    Para Aristóteles, a parte racional da alma, na qual estão as virtudes dianoéticas, divide-se também em duas faculdade racionais: a científica ou contemplativa e a calculativa.

    A primeira – a científica ou contemplativa – permite contemplar as coisas invariáveis, aquelas que não podem ser de outro modo, e nesta parte opera a virtude denominada sophia, ou sabedoria.

    Na segunda parte – a calculativa – opera o contingente, aquilo que pode ser de outra maneira. Esta virtude é a phronesis, que pode ser traduzida como prudência, sabedoria prática ou discernimento.

    sophia é uma combinação do conhecimento científico com a inteligência, como o conhecimento que tem o médico ou o artesão, que já sabem exata e metodologicamente o que devem fazer em uma dada situação. Afinal, “todos nós supomos que aquilo que conhecemos cientificamente não é capaz de ser de outra forma.” (Aristóteles, citado por Polesi, 2006, p. 67).

    phronesis, por sua vez, é uma capacidade de deliberar sem métodos específicos, sem fórmulas específicas, mas corretamente, pelo bem viver do homem, em situações não previstas. É, porém, mais que uma simples capacidade racional, como explica o próprio Aristóteles (citado por Polesi, 2006, p. 67)

    A sabedoria prática no entanto é mais que uma simples disposição racional, pois é possível deixar de usar uma faculdade racional mas não a sabedoria prática.

    Por não produzir nada, a prudência não é arte; por não visar a objetos imutáveis ou eternos, não é mero saber teórico. Aristóteles considera prudente o homem que possui o senso communis, sabe o que tem de fazer em situações particulares e muda o plano de ação caso as situações se alterem.

    ética de Aristóteles, em sua própria opinião, não deveria ser apenas algo teórico (uma tendência dos gregos em geral). Deveria estimular atitudes para chegar a resultados, como o de tornar-se efetivamente bom. Como ensinava Aristóteles (1973, p. 68), “a presente investigação não visa conhecimento teórico como as outras (porque não estamos investigando apenas para saber o que é virtude, mas para nos tornarmos bons, pois do contrário esse estudo seria inútil)”.

  • Tetrapharmakos (τετραφάρμακος) de Epicuro

    Epicuro estudou um vasto campo de coisas, como a moral, os meteoros e a felicidade, mas sua contribuição mais brilhante é o Tetrapharmakon, que podemos interpretar como uma receita médica quádrupla para a alma do homem. Os quatro medicamentos ou tratamentos, conforme Martha Nussbaum (1994), poderiam ser assim sintetizados:

    1. Não há nada a temer quanto aos deuses (ou os deuses não devem ser temidos).
    2. Não há necessidade de temer a morte (ou a morte não deve causar apreensão).
    3. A felicidade é possível (ou o bem é facilmente obtido).
    4. Podemos escapar à dor (ou o terrível facilmente chega ao fim).

    Foi uma analogia a um remédio grego famoso, com o mesmo nome. Era um composto farmacêutico conhecido na farmacologia da Grécia Antiga como uma mistura de cera, resina, breu e gordura animal, na maioria das vezes a gordura de porco.

  • Relações entre a sabedoria semita e a filosofia pré-socrática

    Eu achei muito interessante os paralelos existentes entre a sabedoria semita e a sabedoria que se desenvolveu com os filósofos gregos pré-socráticos. Não ficou claro para mim, porém, se houve alguma apropriação, mas parecem conceitos bastante próximos.

    Inclusive em minhas leituras por aí vi que houve uma figura no Egito chamada de Hermes Trismegistus (tem o texto dele na biblioteca), que possivelmente foi um grande sábio e que também trouxe a ideia da unidade em seus textos. Conhecido como Hermes “três vezes grande”, ele traz na sua obra as 3 iniciações: a) a percepção inicial do eu ontológico b) a observação do sagrado que não sou eu e c) sendo o ápice da sua sabedoria, que eu mesmo sou o sagrado. O que é uma coisa que influenciou uma série de filósofos e pensadores através dos tempos.

    Ligando agora com a sabedoria semita, é interessando notar que para eles a sabedoria estava ligada com a “arte de fazer”, a destreza em sí, e a “arte de viver”, passar o conhecimento adquido adiante.

    Já para os gregos havia um outro conceito para a “sabedoria”, apesar de semelhante. A razão (conforme desenvolvida nos pré-socráticos) era a principal ferramenta de investigação da realidade.

    Esse incremento da sabedoria semitica, por assim dizer, permitiu que uma gama gigante de novos tipos de conhecimento fossem agregados ao ato de pensar: matemática (provavelmente do egito). Houve também uma discussão mais profunda sobre a relação da alma e corpo com o sagrado, e a discussão (talvez um tanto quanto inicial) sobre as relações do todo com o um, através da discussão e da busca do Arché (origem). Essa discussão era estritamente oposta ao politeísmo grego, por isso foi rejeitada na época. A discussão toma corpo com Xonófanes e Heráclito.

    Talvez podemos dizer que eles foram os precursores da unificação posterior da religião cristã em Roma?

  • Dor de Idéia

    Kolakowski, filósofo polonês, compara o filosofo a um bufão, bobo da corte, cujo ofício é fazer rir. O filosofar amansa as palavras: aquela cachorrada feroz que latia, ameaçava e não deixava dormir se transforma em cachorrada amiga de caudas abanantes. O filosofar ensina a surfar: de repente, a gente se vê deslizando sobre as ondas terríveis das dores de ideia. Também serve para pôr luz no escuro. Quando a luz se acende o medo se vai. Muita dor de ideia se deve à falta de luz. Os demônios fogem da luz. Wittgenstein diz que filosofia é contrafeitiço. É boa para nos livrar das dores de ideia, produtos de feitiçaria […] A filosofia nos torna desconfiados. Quem desconfia não fica enfeitiçado. Palavra de mineiro.

    (ALVES, R. Palavras para desatar nós. Campinas: Papirus, 2013)

  • Redes Neurais 3: Implementação de um Perceptron em Python

    Com os conceitos dos posts anteriores e todo esse embasamento, vamos seguir aos notebooks Jupyter!

    Eu gosto de começar um projeto pensando em como podemos representá-lo em classes. Parece razoável pensar em uma classe Perceptron com alguns métodos que falamos anteriormente.

    Minha estratégia de implementação será:

    1. Discutir minha definição de classe do Perceptron;
    2. Implementar os métodos concretos;
    3. Determinar um data set de exemplo para um teste;
    4. Ver se o perceptron aprende mesmo.

    Definindo a classe Perceptron

    Vamos pensar em quais atributos e métodos vamos precisar para desenhar nossa classe Perceptron.

    Atributos

    • Taxa de aprendizagem (η);
    • Número de Epochs (para mais informações, veja [1]);

    Métodos

    • Método para a função ativação: _activation(X);
      • Descrição: Como função de ativação, escolhi a função degrau, descrita no post anterior. Outras funções são comuns para esta finalidade (para mais informações, veja [2]). 
    • Método para a função soma: _sum(X);
      • Descrição: O processo de sum vai multiplicar X pelo peso correspondente. 
    • Método para iniciar um treinamento: fit(X, y);
      • Descrição: É o método que vai de fato colocar as epochs para rodar, calcular os erros e manter um historico de erros na lista _errors
    • Método para gerar uma predição: predict(X);
      • Descrição: Passa o input X para a função de soma e de ativação e retorna a classe esperada.

    Implementação

    Teste

    Vamos testar nosso perceptron! Para fazer isso, vamos utilizar um método muito pratico do sklearn, o make_blobs. Este método cria dados concentrados em volta de um ponto. É bastante util para gerar dados para testes de regressão e classificação. Nosso perceptron é capaz de aprender a classificar dados lineares.

    Pronto. Vamos colocar nosso perceptron para rodar e classificar os blobs.

    Para isso, basta inicializarmos a nossa classe anterior, separar os X (features) e o y (classe).

    Vamos em seguidar rodar o comando fit do perceptron para treinar os pesos.

    Após alguns segundos de treinamento, nosso perceptron já vai ter aprendido os pesos para classificar os blobs.

    Com a ajuda do método plot_decision_regions da lib mlxtend, podemos plotar a região de classificação:

    Vamos também dar uma olhada no histórico de erros:

    Conforme os pesos foram sendo corrigidos, o perceptron passa a classificar 100% dos pontos de maneira correta.

    Espero que tenha sido interessante para você leitor como foi pra mim construir essa série de posts sobre Machine Learning!

    Até a próxima! 


    Bibliografia

    [1] https://towardsdatascience.com/epoch-vs-iterations-vs-batch-size-4dfb9c7ce9c9

    [2] https://medium.com/the-theory-of-everything/understanding-activation-functions-in-neural-networks-9491262884e0

  • Redes Neurais 2: Perceptrons de Rosenblatt

    “For me there is no absolute knowledge: everything goes only by probability. Both Descartes and Schelling explicitly reported an experience of sudden illumination when they began to see everything in a different light.”
    Wang, H.  (1996)

    Eu acho fundamental (e interessante à beça) alinhar a história com o pensamento, vamos começar então pelo começo.

    História e filosofia por trás do perceptron de Rosenblatt

    Com o advento do computador, as idéias de McCulloch e Pitts puderam ganhar um pouco mais de tangibilidade. Já éramos capazes de construir máquinas para realizar cálculos por nós.

    Frank Rosenblatt, psicólogo estadunidense, sugeriu um método de aprendizado computacional. Seu objetivo era transcrever o “mundo dos fenômenos”, mundo que nós, humanos, estamos familiarizados, para uma “linguagem”, de modo que um computador pudesse receber estes “fenômenos” como entradas. Como ele mesmo explica:

    Since the advent of electronic computers and modern servo systems, an increasing amount of attention has been focused on the feasibility of constructing a device processing such human-like functions as perceptionsrecognitionconcept formation, and the ability to generalize from experience. In particular, interest has centered on the idea of a machine which would be capable of conceptualizing inputs impinging directly from the physical environment of light, sound, temperature, etc. — the “phenomenal world” with which we are all familiar — rather than requiring the intervention of a human agent to digest the code has necessary information.

    Frank Rosenblatt (1957) [1]

    O objetivo do perceptron, segundo Rosenblatt, é ilustrar de maneira geral algumas das propriedades fundamentais de um sistema inteligente sem se apegar as condições, muitas vezes desconhecidas, de um sistema biológico [2, p2-3].

    Os componentes de um perceptron são:

    • Uma arquitetura de rede;
    • Neurônios MCP;
    • Uma Regra de Aprendizado.

    Na época causou uma grande euforia, porém sem as necessárias ferramentas teóricas e sem a devida capacidade computacional (como o algoritmo de back propagation de 1986), o machine learning ficou durante um bom tempo sem ter alguma aplicação prática. Hoje em dia, têm aplicações em quase os todos campos da ciência e impacto direto na nossa vida.

    Matemática

    Atualmente, o perceptron é um conceito que já foi generalizado em termos de machine learning. O perceptron pertence a categoria de aprendizado supervisionado (vou escrever sobre isso mais pra frente). De maneira simplificada isto quer dizer que o modelo, em sua fase inicial, não sabe nada (que seja útil pelo menos, pois começa com um estado aleatório) e se corrige (diminui seu erro) para aprender o que estamos ensinando a ele.

    O perceptron resolve uma categoria específica de problemas, os chamados problemas de classificação binária. Como vamos ver, o perceptron consegue aprender a classificar pontos em um plano e atualizar sua estimativa conforme novas observações são adicionadas.

    Função de ativação

    A função de ativação (leia-se o que faz o neurônio artificial se ativar ou desativar), ou seja, o output y, é definido como sendo:

    \[
    y=g\left(\sum ^{M}_{j=0} I_{j} \ .\ w_{j}\right) =g\left( w^{T} I\right)
    \]

    Onde I são os inputs do perceptron, w os pesos relacionados a cada input e g uma “função degrau”. Essa função degrau determina basicamente qual classe o perceptron “ativou”. Vamos convencionar para simplificar a utilização das classes “-1” e “1”. Portanto nossa função degrau g pode ser definida como sendo:

    \[
    g(z)=\begin{cases} 1 & \text{if } z\geq \theta \ -1 & \text{caso contrário} . \end{cases}
    \]

    Onde θ é o nosso limite, valor limite, ou threshold, como é comum na literatura em inglês.

    Função degrau utilizada como função de ativação [3].

    Essa abordagem está de acordo com a regra “all-or-none” que escrevi no post anterior.

    De maneira simplificada: o output do perceptron é calculado por uma função degrau que leva como parametro a soma dos inputs vezes os pesos de cada input. Se a soma for > que um número qualquer (inicialmente aleatório), o output é “1”. Caso contrário “-1”.

    É fácil notar que pesos (w) e o valor de threshold (θ) são as variáveis que podemos corrigir aqui, certo? É é justamente onde acontece a aprendizagem.

    Aprendizagem

    A ideia de Rosenblatt começa a ficar interessante nesse momento. A diferença é que o algoritmo proposto por ele é capaz de aprender (se ajustar com o intuito de diminuir o erro) os pesos para os sinais de input. Assim, após um determinado número de interações, o perceptron espontaneamente aprende o que estamos ensinando a ele, nesse caso separar os inputs em duas categorias -1 e 1.

    Para aprender, o perceptron segue o seguinte algoritmo:

    1. Defina os pesos w dos inputs I como números aleatórios;
    2. Para cada conjunto de percepções (ou observações):
      1. Calcule o output do perceptron utilizando a função de ativação g;
      2. Atualize os pesos do perceptron para que se aproxime da resposta correta.

    O calculo de atualização dos pesos é a etapa mais bela desse algoritmo. Para cada iteração, vamos atualizar os pesos levando em consideração o peso anterior e o quão errado ele estava, usando, para isto, o valor “alvo” (esperado) e o valor “saida” (encontrado):

    \[
    w_{j} =w_{j} +\Delta w_{j}\\
    \]

    Onde:

    \[
    \Delta w_{j} =\eta \ (\text{alvo}^{(i)} -\text{saida}^{(i)} )\ x^{(i)}_{j}
    \]

    e η é a taxa de aprendizado (learning rate), geralmente um número bastante pequeno, utilizado para que o perceptron não fique procurando a solução ideal muito longe, “alvo” é a label real do objeto e “saída” a label que o perceptron julgou ser verdadeira.

    É interessante notar que caso o perceptron julgue uma label como correta, o delta será zero:

    \[
    \begin{array}{l}
    \Delta w_{j} =\eta (-1^{(i)} – -1^{(i)} )\ x^{(i)}_{j} =0\\
    \Delta w_{j} =\eta (1^{(i)} -1^{(i)} )\ x^{(i)}_{j} =0
    \end{array}
    \]

    Desta maneira, a cada nova interação, os pesos são corrigidos e atualizados de modo que esteja cada vez mais próximo do resultado verdadeiro das observações que entregamos a ele.

    Um abraço!


    Bibliografia

    Referências

    [1] Frank Rosenblatt, The Perceptron – A perceiving and recognizing automaton. January 1957 – https://blogs.umass.edu/brain-wars/files/2016/03/rosenblatt-1957.pdf

    [2] http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.335.3398&rep=rep1&type=pdf

    [3] https://sandipanweb.wordpress.com/2016/07/09/convergence-of-the-gradient-descent-algorithms-stochastic-and-batch-for-the-linear-logistic-regression-and-perceptron/

    [4] http://sebastianraschka.com/Articles/2015_singlelayer_neurons.html

    Leituras

    https://blogs.umass.edu/brain-wars/files/2016/01/rosenblatt-1967.pdf

    https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=mdp.39015039846566;view=1up;seq=1;size=125

    https://hdl.handle.net/2027/mdp.39015039846566

  • Redes Neurais 1: O primeiro modelo de neurônio artificial de McCulloch e Pitts

    Obter um embasamento teórico mais robusto em machine learning + não ter encontrado blogs com o formato que eu gosto de ler = me veio a motivação para fazer uma série de posts sobre redes neurais com um pouco mais de profundidade!

    Obter um embasamento teórico mais robusto em machine learning + não ter encontrado blogs com o formato que eu gosto de ler = me veio a motivação para fazer uma série de posts sobre redes neurais com um pouco mais de profundidade!

    Biologia & Matemática

    Começando em 1943. Uma fusão de biologia com matemática criou o paper A Logical Calculus of the Ideas Immanent In Nervous Activity [1]. A junção poderosa produziu um modelo abstrato para os neurônios artificiais criado pelos cientistas Warren S. McCulloch e Walter H. Pitts.

    Eles observaram alguns comportamentos dos neurônios biológicos. Entre eles: a observação de fenômenos de refração de sinais caso os neurônios já houvessem sido excitados, um número fixo obrigatório de sinapses para que ele alterasse o seu estado (all-or-none), entre algumas outras características muito interessantes.

    Ao final, foram descritas 5 suposições para que os cálculos dos cientistas pudessem ser coerentes. Então eles descreveram (abaixo uma tradução livre direto do paper) os tópicos:

    A atividade do neurônio é um processo de “all-or-none“.
    Um certo número fixo de sinapses precisam ser “disparadas” dentro de um período de adição latente para excitar o neurônio a qualquer momento. Este número independe de qualquer atividade prévia ou localização do neurônio.
    O único delay significativo dentro de um sistema sináptico é o delay sináptico.
    A atividade de um inibidor em um determinado momento pára completamente a atividade de um determinado neurônio naquele momento.
    A estrutura da rede não se altera com o tempo.(mcculloh; pitts, 1943).

    Abaixo segue uma esquemática do modelo de neurônio artificial:

    Um neurônio completo com entradas, pesos, uma somatória para calcular o número resultante do Input In vezes o peso Wn (In x Wn) e a função de ativação com o número T de limite para que o neurônio possa ativar em um output y.

    A função após a soma, neste caso, aplica-se uma função simples:

    • Pegue a soma dos inputs vezes os pesos (∑Ii  . Wi):
      • Se a soma for > que  o limite T, y = 1;
      • y = 0 caso contrário.

    Ao colocarmos os parâmetros corretos neste modelo de neurônios artificiais podemos construir coisas interessantes, como portas lógicas:

    NOT, AND e OR gate usando neurônios artificiais. [2].

    Em seguida, Rosenblat desenvolveu, incluindo algumas melhorias no modelo proposto por McCulloch e Pitts, o Perceptron.

    Toda essa teoria, que começou muitos anos atrás, possibilita, hoje, juntamente com os avanços tecnológicos no quesito de velocidade computacional e memória extremamente veloz, a construção de soluções para problemas muito complexos, que de certa forma ensinam o computador como agir dado uma entrada. Deixou de ser uma programação guiada a algoritmos rígidos e passou a ser uma programação por exemplos e aprendizagem.

    É uma mistura de prazer e orgulho viver em uma época como a nossa.

    Bom, é isso pessoal. Até o próximo post!

    Links e leituras complementares

    [1] http://www.cse.chalmers.se/~coquand/AUTOMATA/mcp.pdf
    [2] http://www.cs.bham.ac.uk/~jxb/NN/l3.pdf