Notas do vídeo de Anne-Laure Le Cunff: The 3 cognitive scripts that rule over your life
As vezes algumas idéias acoam diferente e de fato mudam algum aspecto da minha vida, e esse vídeo tem algumas para mim. A idéia de pactos tem sido bastante interessante como meu modelo de reflexão e mudança. Mas antes de entrar nos pactos quero introduzir os racionais que dão base a ele. Depois escrevo um post só sobre como tenho criado pactos para mim.
Os roteiros cognitivos (cognitive scripts)
Roteiros cognitivos são padrões de comportamento internalizados. Eles rodam em autopilot e moldam nossas escolhas sem a gente perceber. Anne-Laure Le Cunff descreve três roteiros comuns: Sequel, Crowd-pleaser e Epic. São interessantes pra gente perceber quando realmente estamos fazendo algo por que realmente queremos ou estamos sob influencia.
Sequel script
A vida como continuação coerente do capítulo anterior. Carreira como “sequência lógica” do curso da faculdade; relacionamentos que são sequels do anterior; repetição dos mesmos padrões porque “tem que fazer sentido”. Nesse modo, ignoramos decisões inesperadas que poderiam abrir caminhos.
Crowd-pleaser script
Decisões para agradar — pais, chefes, amigos, a plateia invisível da internet. Aprovação é mais importante que alegria própria. O critério vira “o que vai soar bem para os outros?” em vez de “o que é verdadeiro para mim agora?”.
Epic script
Tudo precisa ser grande, ambicioso, “mudar o mundo”. Sinais externos de sucesso viram bússola. É um roteiro ansiógeno: colocamos todos os ovos na mesma cesta (“se eu acertar isso, venci a vida; se eu errar, fracassei na vida inteira”). No nosso mundo hiperconectado, o Epic virou padrão — combustível perfeito para comparações baseadas em informação incompleta.
Um lembrete útil sobre o survivorship bias

Wiki: Diagram in which red dots stand for places where surviving planes were shot. This only tells you where planes can get shot and still come back to base. Survivorship bias: your only information is what has survived.
Vemos os empreendedores que “seguiram a paixão e deram certo”; não vemos os milhares que tentaram o mesmo e quebraram. Sem o denominador, nossas conclusões ficam tortas.
Pactos
A proposta de Anne-Laure é simples e poderosa: sair do roteiro e assumir um compromisso com a curiosidade. Em vez de perseguir um “final perfeito”, formular perguntas de pesquisa e rodar experimentos pequenos, de baixo risco, aprendendo em ciclos. É ciência aplicada à vida.
Três perguntas-âncora para navegar a incerteza:
- Estou seguindo meu passado ou descobrindo meu caminho?
- Estou seguindo a multidão ou descobrindo minha tribo?
- Estou seguindo a paixão (fixa) ou descobrindo minha curiosidade (viva)?
Procrastinação não é defeito
Vivemos num culto à eficiência onde produtividade = valor pessoal. Resultado: quando procrastinamos, chamamos de “falha de caráter” e ficamos presos na culpa. Melhor abordagem: triple check da procrastinação — de onde vem?
- Cabeça: racionalmente, você não está convencido de que deveria fazer essa tarefa.
- Coração: emocionalmente, isso não parece divertido/interessante agora.
- Mão: pragmaticamente, você não tem as ferramentas, recursos ou passos claros.
Cada origem pede um tipo de micro-experimento diferente (refinar o porquê, tornar a tarefa mais jogável, ou preparar o kit de execução).
Produtividade atenta
Em vez de produtividade ansiosa e futurista, cultivar presença e curiosidade no trabalho de hoje. Anne-Laure resume em três perguntas práticas:
- Quando é a minha “janela mágica” de energia?
- O que merece estar nessa janela?
- Como mantenho essa janela aberta?
Morte por duas flechas
Na filosofia budista, a primeira flecha é uma emoção inevitável de difícil (dor, frustração). A segunda flecha é opcional: a vergonha e a autocrítica por sentir a primeira. Não precisa. Remover a segunda flecha já reduz metade do sofrimento.
Vire seu próprio antropólogo
Aja como uma antropóloga(o) da sua vida: caderno na mão, anotações de campo, observação paciente do que te dá energia (e do que drena). Com dados do cotidiano, fica mais fácil projetar bons experimentos — e melhores pactos.
Pactos
Pactos são dispositivos de compromisso: pequenos experimentos com escopo, duração, sinais de sucesso e rastreabilidade. É um mini-dispositivo que pode ajudar a explorar sensações e objetivos que nos deixam confusos.
No próximo post descrevo esse modelo.
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