Aprendizagem de Grupos de Pessoas 1: O que é Aprendizagem?

Biblioteca da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) da USP – local onde passei muitas e muitas tardes estudando.

Dentre as inúmeras atividades do dia-a-dia universitário, estudar em grupo era uma das coisas que mais me dava alegria.

Tenho uma referência quando vou criar times de Data Analytics: o grupo de estudos de alunos e alunas se preparando para uma prova em cima da hora.

Tudo bem, o “encima da hora” é agoniante.

Esse grupo era capaz de, juntos, sem barreiras, aprender.

Curiosamente, faz um tempo que fui recomendado o livro A Quinta Disciplina, de Peter M. Senge. Nele há boa parte do corpo de conhecimento pratico e científico sobre esse tema.


No uso corriqueiro, a palavra aprendizado é quase sempre utilizada como sinônimo de “internalização de informações”.

Com o advento de cursos rápidos, textos dinâmicos, fórmulas mágicas, no trabalho ou no lazer, a idéia de aprender algo tem se tornado cada vez mais homeopática e diluída.

“Sim, aprendi isso naquela palestra que assisti!”

No entanto, a internalização quase nada tem em relação com o verdadeiro aprendizado humano.

Nesse artigo nós podemos compreender melhor o processo completo do “armazenamento de longo prazo” da nossa memória. Mas quero me apegar aos aspectos mais práticos.

Na vida real, por que é um contrassenso dizer: “Acabei de ler um excelente livro que ensina a andar de bicicleta – agora já sei andar de bicicleta”?

Como aprendemos?

A verdadeira aprendizagem chega à essência do que significa ser humano. Através da aprendizagem nos recriamos.

É bastante comum ouvir pessoas dizerem: “nunca vou usar esse conhecimento na minha vida!”. Mas o conhecimento em si muitas vezes não é o fim; é o meio. Através da aprendizagem modificamos quem somos.

Conecto ao exercício do grupo de pessoas estudando antes da prova: não é pela prova. Mas como um grupo de pessoas consegue focar, juntas, é uma disciplina de um verdadeiro time.

Lembro também que time são estruturas temporárias. Times são estruturas humanas que se organizam para resolver problemas maiores que elas conseguiriam resolver sozinhas.

Através da aprendizagem, tornamo-nos capazes de fazer algo que nunca antes fomos capazes de fazer. Através da aprendizagem, percebemos novamente o mundo e nossa relação com ele.

Debruçamos nosso corpo na realidade, apoiando os braços no musgo úmido da percepção. Pela aprendizagem, ampliamos nossa capacidade de criar coisas novas.

Existe dentro de nós uma intensa sede para este tipo de aprendizagem. Por isso, aprender é muito mais do que absorver informações.

É o processo de nos conectar com o mundo e nos desenvolvermos como seres humanos.

É sobre nos abrirmos para novas experiências e descobrirmos nossas próprias habilidades e capacidades. É sobre quem somos e quem queremos ser. É sobre como nos conectamos com o mundo e o que podemos fazer para torná-lo um lugar melhor. Aprender é essencial para o crescimento e desenvolvimento humano. É necessário para nos tornarmos melhores versões de nós mesmos.

Tomando uma frase de Edward Halls (citada no livro): “Seres humanos são os organismos que aprendem por excelência. O desejo de aprender é tão forte quanto o sexual – ele começa cedo e dura muito tempo.”

É bastante possível que o time que mais temos saudades de trabalhar são os times em que havia aprendizado, especialmente em grupo.

Será que conseguimos desenvolver intencionalmente times que verdadeiramente aprendem? É possível desenvolver times de pessoas que tem como sua principal característica aprender constantemente?


Nos próximos textos vou explorar (relendo e contribuindo com minhas próprias observações o autor do “A Quinta Disciplina”) como estruturas que aprendem funcionam, suas principais disfunções e suas principais características.


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